.Gleudecy B.C.Carvalho Rodrigues

Bem vindos, Caros Amigos.
PAZ & LUZ!


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ariano Suassuna recebe o Título de Cidadão Campinense





Em Solenidade bastante concorrida na tarde de hoje, dia 11, o dramaturgo, romancista e poeta Ariano Suassuna, um dos mais brilhantes nordestinos, se tornou o mais novo cidadão campinense, título concedido e reconhecido pela Câmara de Vereadores de Campina Grande no aniversário de 147 anos da cidade. Uma justa homenagem com a propositura de autoria do vereador João Dantas (PSD). A solenidade de entrega do título aconteceu às 15 horas de hoje, e contou com a presença dos vereadores campinenses, Pimentel Filho (PMDB), Olimpio Oliveira (PMDB) e Ivonete Ludgério (PSB), e do vereador pessoense Bira (PSB).

Na disputa férrea entre a sua Parahyba (como ainda insiste em chamar a capital onde nasceu em 1927), a Taperoá de sua infância, e os arrecifes pernambucanos entre os quais escolheu viver, Campina Grande acaba de se tornar a mais nova casa de Ariano.

A solenidade contou com varias autoridades, entre elas Chico César; secretário de Cultura do Estado, Eneida Maracajá; secretária de Cultura do município de Campina Grande, Lourdes Ramalho; Poetisa, escritora e Dramaturga, além de vários representantes de segmentos da cultura nordestina.














terça-feira, 11 de outubro de 2011

Café,Prosa & Poesia: PARABÉNS CAMPINA!!!!



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Café,Prosa & Poesia: PARABÉNS CAMPINA!!!!


Tropeiros da Borborema
Raymundo Asfora -Rosil Cavalcante
Estala relho marvado
Recordar hoje é meu tema
Quero é rever os antigos tropeiros da Borborema
São tropas de burros que vêm do sertão
Trazendo seus fardos de pele e algodão
O passo moroso só a fome galopa
Pois tudo atropela os passos da tropa
O duro chicote cortando seus lombos
Os cascos feridos nas pedras aos tompos
A sede e a poeira o sol que desaba
Rolando caminho que nunca se acaba
Estala relho marvado
Recordar hoje é meu tema
Quero é rever os antigos tropeiros da Borborema
Assim caminhavam as tropas cansadas
E os bravos tropeiros buscando pousada
Nos ranchos e aguadas dos tempos de outrora
Saindo mais cedo que a barra da aurora
Riqueza da terra que tanto se expande
E se hoje se chama de Campina Grande
Foi grande por eles que foram os primeiros
Ó tropas de burros, ó velhos tropeiros.

PARABÉNS CAMPINA!!!!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ariano Suassuna recebe título de Cidadão Campinense









CONVITE








A Mesa da Câmara Municipal de Campina Grande "Casa de Félix Araújo"em cumprimento a propositura de autoria do Vereador JOÃO DANTAS, convida para Participar de Sessão Solene de

ENTREGA DO TÍTULO DE CIDADÃO CAMPINENSE AO ESCRITOR E DRAMATURGO SR. ARIANO SUASSUNA

no dia 11 Outubro às 15 horas

no Sitio São João - Av. Manoel Tavares s/n - Alto Branco



NELSON GOMES FILHO

PRESIDENTE

TOVAR CORREIA LIMA

1º Secretário

Fortuna crítica: A redenção de Suassuna




RECIFE. O ano de 2005 está dando ao escritor Ariano Suassuna bons motivos para festejar. Além de celebrar os 50 anos de “Auto da Compadecida”, uma das peças mais populares da dramaturgia brasileira, relançada pela Agir numa edição de luxo revista pelo autor, Suassuna viu aquela que é considerada sua obra-prima, “A Pedra do Reino” (editora José Olympio), voltar às livrarias depois de 20 anos fora de catálogo. Nessa entrevista, o autor — um dos convidados mais esperados da Festa Literária Internacional de Paraty, que acontece em julho — confessa como somente uma década depois de ter escrito “A Pedra do Reino” descobriu os motivos que o levaram a produzi-lo: a vingança pelo assassinato do pai, quando ele tinha apenas 3 anos de idade. Escrever o livro foi uma forma de buscar a redenção do seu “rei” e inverter o conceito vigente na década de 30 do século passado, segundo o qual as forças rurais que o pai liderava eram o obscurantismo e o urbano é que representava o progresso. Razões familiares, políticas e íntimas à parte, “A Pedra do Reino” é inspirado em um episódio ocorrido no século XIX, no município sertanejo de São José do Belmonte, a 470 quilômetros do Recife. Ali, em 1836, uma seita tentou fazer ressurgir o rei Dom Sebastião, transformado em lenda em Portugal depois de desaparecer na Batalha de Alcácer-Quibir, quando tentava converter mouros em cristãos no Marrocos. Sob o domínio espanhol, os portugueses sonhavam com o retorno do rei que restauraria a nação usurpada. A manifestação de sebastianismo no Brasil está presente não só no livro de Suassuna como é lembrada em Pernambuco durante a Cavalgada da Pedra do Reino, que acontece anualmente no lugar onde inocentes foram sacrificados pela volta do rei. O escritor paraibano, que há muito escolheu Recife como moradia, cita seu novo livro em gestação, no qual espera fundir os três gêneros aos quais se dedica: o romance, o teatro e a poesia, entrelaçados numa espécie de revisão de tudo o que já escreveu. A obra do autor, aliás, já mereceu numerosos estudos em todo o Brasil, o mais recente deles assinado pela antropóloga Maria Aparecida Lopes Nogueira, autora de “Ariano Suassuna, o cabreiro tresmalhado” (editora Palas Athena), no qual ela analisa minuciosamente a tragédia pessoal presente na literatura de Suassuna.

Lançado há quase 30 anos, “A Pedra do Reino” passou duas décadas fora de catálogo. Alguma restrição de sua parte?

ARIANO SUASSUNA: Não, nenhuma. O que houve foi que minha editora, a José Olympio, passou por dificuldades. Então, apesar de o livro estar na época vendendo bem, ficou por mais de 20 anos fora de catálogo. Não houve nenhuma grande revisão do livro, que permanece com a mesma estrutura e algumas pequenas modificações.

O poeta João Cabral de Melo Neto dizia que, na idade madura, jamais escreveria de novo “Morte e vida severina”, afirmando que seu poema mais famoso foi um arroubo de juventude. Hoje o senhor escreveria “A Pedra do Reino” com o mesmo ímpeto?

SUASSUNA: Com certeza. Mantive todo o livro nessa edição. E lhe digo como já disse mais de uma vez: se me dissessem que iam queimar todos os livros e só me dessem o direito de salvar uma obra, salvaria “A Pedra do Reino”.

No sertão de sua infância os descendentes e parentes próximos vingavam com a morte o assassinato de entes queridos. O seu pai foi assassinado por divergências políticas. Escrever “A Pedra do Reino” foi sua melhor vingança?

SUASSUNA: Foi mais do que uma vingança. Foi uma forma de evitar o crime e buscar a redenção.

O senhor teve essa percepção ao escrever o livro ou só depois tomou consciência de que “A Pedra do Reino” foi uma forma de manter viva a imagem, o rosto, a presença do seu pai?

SUASSUNA: Só uma década depois entendi que o que escrevi tinha sido uma busca daquela redenção. E hoje acho que é isso mesmo. Mas não percebi isso quando publiquei o livro em 1971. É a descoberta do rei que nunca morre. O livro é dedicado a meu pai e a mais doze pessoas. É como se ele representasse para mim aquela figura tão importante do tempo em que eu assistia às cavalhadas de menino. Então, meu pai é o imperador a quem o livro é dedicado. E os doze outros são os cavaleiros, os pares dele. Tanto que entre eles encontram-se Euclides da Cunha, Antônio Conselheiro, José Lins do Rego e até Leandro Gomes de Barros, o maior autor de folhetos de cordel do Nordeste. Por esse motivo, concluí minha dedicatória a João Suassuna, santos, mártires, poetas, profetas e guerreiros do meu mundo mítico do sertão.

Depois de ter o pai assassinado o senhor cresceu ouvindo falar mal dele, que representaria o rural, o atrasado. O urbano é que era o progresso. Seu esforço foi para fazer uma inversão desses valores?

SUASSUNA: Eu realmente sentia muito isso. Essa visão de que as forças rurais que ele liderava eram o atraso, o obscurantismo, o mal. E as outras representavam o bem e o progresso. “A Pedra do Reino” foi uma das armas que usei para reagir contra essa visão estreita.

“A Pedra do Reino” foi encarada como um marco da ficção nordestina depois do ciclo regionalista da década de 30. Apesar de abordar o mundo famélico e mágico do sertão, ele teria uma mensagem universal?

SUASSUNA: Eu o fiz com a intenção de ser universal. Se eu o consegui ou não, é difícil determinar porque só o tempo vai dizer. Mas realmente acredito que o ser humano é o mesmo em todos os lugares e em todos os tempos. Então, se em “A Pedra do Reino” consegui tocar na vida, na história do homem nordestino, estou tocando, também, nos problemas dos homens de todos os lugares do mundo.

Ensaio, crítica, resenha & comentário:

Canudos e o Exército

(in Folha de São Paulo, 30 de Novembro de 1999)



O que houve em Canudos e continua a acontecer hoje, no campo como nas grandes cidades brasileiras, foi o choque do Brasil "oficial e mais claro" contra o Brasil "real e mais escuro". Ao Brasil oficial e mais claro que não é somente "caricato e burlesco", como afirmou um Machado de Assis, momentaneamente perturbado por sua justa indignação, pertenciam algumas das melhores figuras do patriciado do tempo de Euclydes da Cunha: civis e políticos como Prudente de Moraes, ou militares como o general Machado Bittencourt.
Bem-intencionados mas cegos, honestos mas equivocados, estavam convencidos de que o Brasil real de Antônio Conselheiro era um país inimigo que era necessário invadir, assolar e destruir. O civil que começou a reparar esse erro doloroso foi Euclydes da Cunha. O militar foi o major Henrique Severiano, grande herói de Canudos, do lado do Exército. Através de sua bela morte, acendeu ele uma chama que, juntamente com a de Euclydes da Cunha, temos todos nós -intelectuais, políticos, padres, soldados- o dever de levar fraternalmente adiante. Conta-se, em "Os Sertões", sobre o incêndio dos últimos dias de Canudos: "O comandante do 25º batalhão, major Henrique Severiano, era uma alma belíssima, de valente. Viu em plena refrega uma criança a debater-se entre as chamas. Afrontou-se com o incêndio. Tomou-a nos braços; aconchegou-a do peito criando, com um belo gesto carinhoso, o único traço de heroísmo que houve naquela jornada feroz e salvou-a. Mas expusera-se. Baqueou mal ferido, falecendo poucas horas depois".
A meu ver, tal seria o militar simbólico, emblema do verdadeiro soldado brasileiro, capaz de apoiar um movimento em favor do povo, também simbolicamente representado aí por essa criança, iluminada entre as chamas do seu martírio.
Euclydes da Cunha, formado, como todos nós, pelo Brasil oficial, falsificado e superposto, saiu de São Paulo como seu fiel adepto positivista, urbano e "modernizante". E, de repente, ao chegar ao sertão, viu-se encandeado e ofuscado pelo Brasil real de Antônio Conselheiro e seus seguidores. Sua intuição de escritor de gênio e seu nobre caráter de homem de bem colocaram-no imediatamente ao lado dele, para honra e glória sua. Mas a revelação era recente demais, dura demais, espantosa demais. De modo que, entre outros erros e contradições, só lhe ocorreu, além da corajosa denúncia contra o crime, pregar uma "modernização" que consistiria, finalmente, em conformar o Brasil real pelos moldes da rua do Ouvidor e do Brasil oficial. Isto é, uma modernização falsificadora e falsa, e que, como a que estão tentando fazer agora, é talvez pior do que uma invasão declarada. Esta apenas destrói e assola, enquanto a falsa modernização, no campo como na cidade, descaracteriza, assola, destrói e avilta o povo do Brasil real.

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Uma quase-despedida

(in Folha de São Paulo, 04 de julho de 2000)



Na década de 80, já velho, o Cego Oliveira, músico e poeta popular do sertão cearense, em depoimento prestado ao cineasta Rosemberg Cariry, declarou: "Uma vez, na hora de acabar o toque, cantei uma despedida tão bonita que uma mulher disse: "Faz pena um homem desse ter que morrer um dia!'".
De minha parte, não sei tocar rabeca, não mereço comentário tão belo e comovente nem esta quase-despedida que estou escrevendo aqui é um momento dramático do jornal ou da minha vida. Na verdade, estamos apenas transferindo o local e a data da minha coluna: vou passar a escrever na Ilustrada, toda segunda-feira, em novo formato e numa linha, digamos assim, mais literária.
De qualquer modo, é mais de um ano escrevendo aqui; e, na minha idade, um ano é muito tempo. Por isso, não quis sair sem uma palavra de despedida a meus leitores; principalmente porque, velho como o Cego Oliveira, cada vez mais a literatura se transforma para mim na rabeca que dá tom ao toque da minha vida.
Por outro lado, como escritor que sou, gosto de personalizar meus sentimentos de afetividade; e, para encarnar todos os meus possíveis leitores, escolho hoje, aqui, uma moça de Campinas chamada Cida Sepúlveda. Cida, que, em fevereiro deste ano, me escreveu uma carta na qual dizia, com belas palavras que me tocaram: "Sou uma poetisa anônima, casual, trágica, inconsequente, fruto e produto do casamento entre a urbanidade e a melancolia dos pastos antigos". Cida, que, mais recentemente, me mandou outra carta em que, comentando meu artigo sobre a criação de cabras no Rio Grande do Norte, afirmava: "Fui criada com leite de cabra. Meus pais eram pobres, mas tínhamos uma cabrinha no quintal; eu mesma, menina, algumas vezes tirei leite dela. E como são dóceis esses animais!".
Quero, então, dizer a Cida Sepúlveda que, em ambos os casos, vi que entre mim e ela existe uma grande identificação. Sou relativamente conhecido como romancista e mais como dramaturgo; como poeta sou "anônimo, casual, trágico, inconsequente" e também "fruto e produto do casamento entre a urbanidade e a melancolia de pastos antigos"; pastos esses que, no meu caso, eram povoados de belas cabras agrestes, esquivas, quase selvagens e que pareciam pequenos antílopes, extraviados das savanas da África, das serras do Líbano ou das mesetas da Península Ibérica nos tabuleiros e carrascais do sertão nordestino.
Na última carta que me escreveu, Cida Sepúlveda sugere que eu me valha de "um endereço eletrônico" por meio do qual meus leitores possam me escrever com mais facilidade. Por acaso, recentemente houve, no Recife, um congresso de jornalistas. No dia em que a ele compareci, Matinas Suzuki, ouvindo-me falar de minhas desventuras no mundo dos computadores, generosamente se prontificou a me dar um daqueles endereços. E vou pedir a Alexandre Nóbrega -que é a pessoa que resolve tais assuntos para mim- que entre em contato com Suzuki, a fim de que eu, absolutamente incapaz de fazer isso sozinho, atenda à solicitação de Cida Sepúlveda. Até segunda, na Ilustrada.

POESIA





O Mundo do Sertão
(com tema do nosso armorial)


Diante de mim, as malhas amarelas
do mundo, Onça castanha e destemida.
No campo rubro, a Asma azul da vida
à cruz do Azul, o Mal se desmantela.

Mas a Prata sem sol destas moedas
perturba a Cruz e as Rosas mal perdidas;
e a Marca negra esquerda inesquecida
corta a Prata das folhas e fivelas.

E enquanto o Fogo clama a Pedra rija,
que até o fim, serei desnorteado,
que até no Pardo o cego desespera,

o Cavalo castanho, na cornija,
tenha alçar-se, nas asas, ao Sagrado,
ladrando entre as Esfinges e a Pantera.

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Aqui morava um rei


"Aqui morava um rei quando eu menino
Vestia ouro e castanho no gibão,
Pedra da Sorte sobre meu Destino,
Pulsava junto ao meu, seu coração.

Para mim, o seu cantar era Divino,
Quando ao som da viola e do bordão,
Cantava com voz rouca, o Desatino,
O Sangue, o riso e as mortes do Sertão.

Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem meu guia
Que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua efígie me queima. Eu sou a presa.
Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa
Espada de Ouro em pasto ensanguentado."
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O Amor e a Morte

Com tema de Augusto dos Anjos


Sobre essa estrada ilumineira e parda
dorme o Lajedo ao sol, como uma Cobra.
Tua nudez na minha se desdobra
— ó Corça branca, ó ruiva Leoparda.

O Anjo sopra a corneta e se retarda:
seu Cinzel corta a pedra e o Porco sobra.
Ao toque do Divino, o bronze dobra,
enquanto assolo os peitos da javarda.

Vê: um dia, a bigorna desses Paços
cortará, no martelo de seus aços,
e o sangue, hão de abrasá-lo os inimigos.

E a Morte, em trajos pretos e amarelos,
brandirá, contra nós, doidos Cutelos
e as Asas rubras dos Dragões antigos.
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A Moça Caetana a morte sertaneja

Com tema de Deborah Brennand


Eu vi a Morte, a moça Caetana,
com o Manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso,
e os dentes de Coral da desumana.

Eu vi o Estrago, o bote, o ardor cruel,
os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mão direita, a Cobra cascavel,
e na esquerda a Coral, rubi maldito.

Na fronte, uma coroa e o Gavião.
Nas espáduas, as Asas deslumbrantes
que, rufiando nas pedras do Sertão,


pairavam sobre Urtigas causticantes,
caules de prata, espinhos estrelados
e os cachos do meu Sangue iluminado.
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A Morte — O Sol do Terrível

Com tema de Renato Carneiro Campos


Mas eu enfrentarei o Sol divino,
o Olhar sagrado em que a Pantera arde.
Saberei porque a teia do Destino
não houve quem cortasse ou desatasse.

Não serei orgulhoso nem covarde,
que o sangue se rebela ao toque e ao Sino.
Verei feita em topázio a luz da Tarde,
pedra do Sono e cetro do Assassino.

Ela virá, Mulher, afiando as asas,
com os dentes de cristal, feitos de brasas,
e há de sagrar-me a vista o Gavião.

Mas sei, também, que só assim verei
a coroa da Chama e Deus, meu Rei,
assentado em seu trono do Sertão.
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A mulher e o reino


Oh! Romã do pomar, relva esmeralda
Olhos de ouro e azul, minha alazã
Ária em forma de sol, fruto de prata
Meu chão, meu anel , cor do amanhã

Oh! Meu sangue, meu sono e dor, coragem
Meu candeeiro aceso da miragem
Meu mito e meu poder, minha mulher

Dizem que tudo passa e o tempo duro
tudo esfarela
O sangue há de morrer

Mas quando a luz me diz que esse ouro puro se acaba pôr finar e corromper]
Meu sangue ferve contra a vã razão
E há de pulsar o amor na escuridão
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Lápide

Com tema de Virgílio, o Latino,
e de Lino Pedra-Azul, o Sertanejo


Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.

Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido

que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!

Frases antológicas.ARIANO SUASSUNA



“A humanidade se divide em dois grupos, os que concordam comigo e os equivocados.”

“Sou a favor da internacionalização da cultura, mas não acabando as peculiaridades locais e nacionais”.

“Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa”.

“Jamais falei mal de Molière, mas querer que eu aceite Elvis Presley já é demais”.

“A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto… Nunca vi um gênio com gosto médio.”

“… que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos.”

“Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas”

“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”

“Eu digo sempre que das três virtudes teologais , sou fraco na fé e fraco na qualidade, só me resta a esperança.”

“Não tenho medo de andar de avião como muitos dizem. O que eu tenho é tédio. Não agüento mais olhar aquelas aeromoças fazendo um teatro mímico para mostrar aos passageiros como usar às máscaras de oxigênio em caso de despressurização, e a porta de emergência.”

“Em vez de porta-aviões, os americanos hoje mandam Michael Jackson e Madonna para dominar o Brasil.”

“Na pré-história, os cavalos comiam só mato e os homens começaram a comer carne. A evolução trouxe a raça humana até aqui e os cavalos continuam sendo vegetarianos até hoje. É por isso que nunca parei de comer carne.”

ARIANO SUASSUNA



Ariano Vilar Suassuna, advogado, professor, teatrólogo e romancista, desde 1990 ocupa a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Araújo Porto Alegre, o Barão de Santo Ângelo (1806-1879).

Filho de João Suassuna e de Rita de Cássia Villar, Ariano estava com um pouco mais de três anos quando seu pai, que havia governado o Estado no período de 1924 a 1928, foi assassinado no Rio de Janeiro, em conseqüência da luta política às vésperas da Revolução de 1930.

No mesmo ano, sua mãe se transferiu com os nove filhos para Taperoá, onde Ariano Suassuna fez os estudos primários. No sertão paraibano Ariano se familiarizou com os temas e as formas de expressão que mais tarde vieram a povoar a sua obra.

Em 1942, a família se mudou para Recife e os primeiros textos de Ariano foram publicados nos jornais da cidade, enquanto ele ainda fazia os estudos pré-universitários. Em 1946 Ariano iniciou a Faculdade de Direito e se ligou ao grupo de jovens escritores e artistas que tinha à frente Hermilo Borba Filho, com o qual fundou o Teatro do Estudante Pernambucano. No ano seguinte, Ariano escreveu sua primeira peça, "Uma Mulher Vestida de Sol", e com ela ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno.

Após formar-se na Faculdade de Direito, em 1950, passou a dedicar-se também à advocacia. Mudou-se de novo para Taperoá, onde escreveu e montou a peça "Torturas de um Coração", em 1951. No ano seguinte, voltou a morar em Recife. O Auto da Compadecida (1955), encenado em 1957 pelo Teatro Adolescente do Recife, conquistou a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais. A peça o projetou não só no país como foi traduzida e representada em nove idiomas, além de ser adaptada com enorme sucesso para o cinema.

No dia 19 de janeiro de 1957, Ariano se casou com Zélia de Andrade Lima, com a qual teve seis filhos. Foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura, do qual fez parte de 1967 a 1973 e do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, no período de 1968 a 1972.

Em 1969 foi nomeado Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, ficando no cargo até 1974.

Ariano estava sempre interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais e, no dia 18 de outubro de 1970, lançou o Movimento Armorial, com o concerto "Três Séculos de Música Nordestina: do Barroco ao Armorial", na Igreja de São Pedro dos Clérigos e uma exposição de gravura, pintura e escultura.

O escritor também foi Secretário de Educação e Cultura do Recife de 1975 a 1978. Doutorou-se em História pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1976 e foi professor da UFPE por mais de 30 anos, onde ensinou Estética e Teoria do Teatro, Literatura Brasileira e História da Cultura Brasileira.

Seu "Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta" publicado originalmente em 1971 teve a primeira edição. Relançado somente em 2005 teve sua segunda edição esgotada em menos de um mês, o que é uma coisa rara para um volume de quase 800 páginas.